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sábado, 26 de maio de 2012

Militância pelo abolicionismo em Castro Alves - Parte 1

Dentro da literatura socialmente engajada do século XIX, um poeta brasileiro se destacou na luta ferrenha pelo direito dos negros escravizados: Castro Alves, o "Poeta dos Escravos".

Uma parcela considerável de sua obra foi voltada para o tema, de forma a ajudar a impulsionar a mentalidade da sociedade da época para a futura abolição da escravatura. Castro Alves cantava não só as atrocidades e injustiças que eram cometidas pelos senhores de engenho para com seus escravos - as agressões físicas e pesadas cargas de trabalho a eles impostas -, mas também o preconceito social que o negro sofria, por vezes até dificultando sua ascensão social, como foi o caso do próprio poeta que por tal razão não conseguiu obter o prestígio que merecia dentro de sua sociedade.

Abaixo, confira a transcrição de algumas partes de um de seus célebres poemas, "Vozes d'África" pertencente ao livro "Os Escravos" de 1883, onde o autor fala pelo povo oprimido e reclama a Deus o fim de seu sofrimento:


Vozes d'África
Castro Alves

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
(...)
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
Para ler o poema "Vozes d'África" completo, você pode clicar AQUI.

Douglas P. Coelho

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